segunda-feira, 13 de abril de 2009

Puxado por Deus do mundo das drogas

JOTTA PAIVA De Areia Branca Areia Branca - "Quem que me tirou das drogas foi Deus." A afirmativa do empresário Júlio César de Araújo mostra o quanto a simbologia religiosa e a imagem de um ser supremo (Deus) representam na vida das pessoas ainda no século 21. Envolvido no submundo dos entorpecentes durante grande parte de sua vida, Júlio é hoje um exemplo de resistência e vitória. A sua história é a prova de como a força de vontade e o apoio familiar podem mudar a vida de um viciado. Aos 13 anos, morando em Natal, ele provou os primeiros tragos e só aos 35 decidiu pedir ajuda de uma tia. Em 2004, ficou internado durante oito meses em um centro de recuperação de dependentes conhecido como "Fazenda Esperança", localizado no município de Serra do Mel. "Sufocado, decidi passar uns tempos em Areia Branca para fugir de Natal, por isso aceitei entrar no abrigo. Como sempre tive muito contato com o esporte, foi fácil me relacionar com a casa", diz Júlio. Embora tenha tido dificuldade de se adaptar no início devido à rotina de trabalho e regras a serem seguidas, ele não recuou. Em Deus encontrou segurança para o seu medo e no esporte uma saída para se manter em harmonia com os outros internos. "Durante os oito meses que passei na fazenda, vi saírem 196 pessoas, entre concluintes e desistentes do tratamento. Desses, nenhum se recuperou", lamenta Júlio. Depois que deixou a casa abraçou uma oportunidade e abriu uma empresa que até hoje continua prosperando. Aberto para contar a sua história em palestras ou reuniões específicas, o empresário não faz do seu passado um lamento, mas uma oportunidade para mostrar às novas gerações os perigos de não ser careta. Para ele, a esposa foi uma das responsáveis pelo que é hoje. Devido à resistência da companheira, que não o abandonou em nenhum momento, ele pode hoje aproveitar o domingo com ela e os dois filhos. Júlio já não sofre mais o medo de outrora e, reintegrado à sociedade, é hoje, aos 39 anos, um importante complemento social e econômico para Areia Branca. Mas, muita gente vive o dilema do vício em entorpecentes e não encontra saída. Por ser uma cidade portuária, Júlio explica que é muito fácil a entrada da droga. Mesmo assim, o consumo cada vez maior não é uma particularidade apenas de Areia Branca, que como os demais municípios oestanos virou vítima do tráfego. O mais duro é que não existe informação concreta sobre o problema. O município não consegue obter estatísticas reais dos casos e, por conta disso, não pode oferecer maior orientação social e educacional. Assim, o futuro de muitos jovens continuará escuro e o caminho quase sempre pode ser a morte.

Delegado diz que Areia Branca é alarmante Quando o assunto é droga a solução não cai do céu, e a Polícia não pode ser a única responsável pelo controle do problema. Para o delegado da Polícia Civil Francisco Edivan de Queiroz, que respondia, até então pela cidade, o combate a esse submundo é um papel social e requer pulso firme dos governantes. "A situação da droga em Areia Branca é alarmante devido ao número de viciados", alerta o delegado, explicando que não será apenas o trabalho da Polícia que trará o sossego desejado; é preciso mais. Visível crítico do modelo social, o bacharel reclama que, se os políticos quiserem fazer alguma coisa, ainda é possível salvar os municípios, pelo menos os menores. "Cidades pequenas ainda têm jeito, já as grandes é mais difícil", opina. Para ele, o modelo político continua muito centrado no pessoal e, por conta disso, o todo é esquecido. "Estamos nos transformando na sociedade do medo. Estamos cercados e seremos tragados por esse outro mundo", diz Edivan. O delegado aponta os bairros Navegantes, Salinópolis, IPE, Baixa da Maré, Índios, ou São João e Irã, como os principais pontos de droga da cidade, baseado nas ocorrências policiais registradas na DP. Porém, a falta de provas e colaboração social impede a Polícia de fazer um trabalho mais enérgico. Mesmo com todas essas informações, as estatísticas são desanimadoras. No ano passado, apenas 16 pessoas foram detidas por tráfego de drogas, sendo que dessas quatro eram menores. As apreensões por entorpecentes perdem até para a Lei Maria da Penha, que em 2008 registrou 18 procedimentos.

FONTE: JORNAL DE FATO

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